A sucessão do chefe pode ser obtida por herança ou por escolha se, respectivamente, for caso de morte ou se o chefe for deposto por incompetência ou demasiado despotismo. Mas, ao contrário da sua vizinha etnia Luena e de outras etnias bantu, entre os Tutchokwe e Lundas, geralmente, a chefia não é entregue a indivíduos do sexo feminino.
Uma etnia ou clã Lunda ou Tchokwe jamais será governado por uma mulher, salvo circunstâncias muito especiais, como por exemplo se não houver varões em toda a família ou, havendo-os, estes sejam declarados incompetentes, física e mentalmente, para governar. Há ainda transmissão do poder por testamento se, à hora da morte, o chefe designar uma sua filha ou sobrinha para chefe ou rainha do seu povo.
A vontade do morto é religiosamente e prontamente cumprida.
Se o herdeiro for criança e não houver tio materno, a chefia poderá ser entregue, com o título de regência, à tia ou à mãe do futuro chefe, até que este atinja a maioridade. Não haverá cerimónia na sua investidura, visto não lhe ser imposto o “lukano”, no braço direito se for varão ou no esquerdo se for fêmea. A regente ou o regente, apenas será o guarda fiel do “lukano”. O “lukano” pode, também, estar à guarda da irmã mais velha do chefe ou de um “tcxhilolo” investido, para tanto, de funções especiais.
Ao contrário dos Lundas, cujo filho primogénito é o futuro herdeiro e, só na falta deste, seria o sobrinho, os Tutchokwe não herdam dos pais, mas sim dos tios maternos. Só consideram de sangue real os filhos das irmãs do lado colateral uterino. Assim, o primeiro sobrinho, filho da irmã mais velha do chefe, é herdeiro da chefia e do “lukano”, caso tenha competência para isso, pois esta é a condição sine quan non para que o futuro chefe seja eleito pelo povo.
Escolha ou eleição do sucessor
Normalmente, a escolha do sucessor do chefe falecido era sempre feita antes de se proceder ao enterro do finado, isto porque era ao novo chefe que competia escolher o local da nova aldeia que iria ser construída sob a égide dele.
Só em casos extraordinários da escolha ou eleição do verdadeiro herdeiro é que o chefe seria enterrado antes da escolha do sucessor. Neste caso, seria nomeado um regente até poder ser escolhido ou eleito um novo chefe. Mas como a regra geral é ser o sobrinho mais velho, filho da irmã mais velha do falecido, o herdeiro do património e da chefia será, em princípio, o citado sobrinho, se for capaz de ocupar o lugar do chefe defunto.
Escolhido ou eleito o novo chefe, será a ele que compete mandar proceder às cerimónias do enterro do antigo chefe, depois de já ter escolhido o local da nova aldeia, que começa logo a ser construída, ainda antes do enterro do falecido chefe.
Instalação ou entronização do sucessor
Após o enterro do chefe, ninguém mais dormirá na antiga aldeia. Assim, nesse dia, todos os habitantes se mudam para as “ikurita” (plural de Tchikurita) que significa cabanas ou palhotas de emergência por morte do chefe, previamente construídas, a algumas centenas de metros ou mais, do antigo povoado, depois do futuro chefe já ter escolhido o local da nova aldeia, que será onde encontrar uma árvore de que goste e à qual se abraça dizendo: Encontrei.
No mesmo dia em que algum caçador da aldeia chega ao povoado com uma peça de caça, vai entregá-la ao herdeiro eleito para a chefia. Em troca, e acto contínuo, o futuro chefe dar-lhe-á uma carga de pólvora e far-lhe-á riscos com “mukundu” (argila encarnada que significa a morte, o mal, a injustiça, o sangue)) na espingarda do caçador, para que este continue a ter sorte nas caçadas.
Entretanto, para que o futuro chefe possa levar a “lukossa” para sua casa, terá que regá-la com sangue de qualquer ave. Feito isto, depõe-na junto dos seus ídolos que estão na “tchipanga” (pequena paliçada com cerca de dois metros de diâmetro, reservada aos ídolos tutelares), perto da sua casa, na nova aldeia.
Feito isto, o novo chefe leva o animal que o caçador matou, junto dos seus ídolos e da “lukossa” e lança-o ao chão como oferta. Dentro desta paliçada estão todos os seus ídolos, incluindo a “Naiangu” (ídolo de nobreza) sobre o qual é colocada a “lukossa”, que depois é regada com o sangue do animal sacrificado. O fígado do animal é picado aos bocados e depositado aos pés do ídolo. Tanto o sangue como o fígado são espalhados, também, por outros ídolos, incluindo o “Mulumi” ou “Munengue” (árvore plantada de estaca que marcará o início e toda a existência da aldeia).
O animal é, então, esquartejado e todos os órgãos internos deste, depois de cozinhados, devem ser comidos pelo novo chefe. A restante carne será distribuída e comida por toda a gente para que a nova aldeia seja abençoada por todos os espíritos dos antepassados da etnia.
Finda a refeição, o novo chefe vai, imediatamente, ku funda pemba, o que, figuradamente, designa ter relações sexuais com sua primeira mulher e, literalmente, significa fazer riscos com pemba. O chefe deve ser o primeiro ku funda pemba pois, de contrário, poderia morrer se outro casal o fizesse primeiramente. Neste caso, o espírito do chefe morto não ficaria satisfeito, castigando, com a morte, o novo chefe, suas mulheres e o casal delinquente.
No dia seguinte, toda a gente da aldeia reúne, junto da tchipanga dos ídolos, a fim de receber a pemba do seu novo chefe. Este, então, em atitude solene, entra no recinto dos ídolos tutelares e, pegando num bocado de pemba, vai fazendo um risco no braço direito de todos os homens que, um a um, dele se acercam. Os primeiros são sempre os mais idosos e de cabelos brancos. Às mulheres faz um risco junto do umbigo, para que sejam fecundas, e às crianças que elas trazem ao colo, na testa, para que elas sejam saudáveis e fortes. A pemba é um preventivo contra os espíritos malignos, bem como contra o espírito do chefe finado, e ainda uma protecção contra a doença e todos os perigos.
Finda esta cerimónia, o chefe pega na lukossa, mete-a no braço e baixando-se, põe as palmas das mãos na terra, que passa a ser sua, esfregando com ela o peito para que lhe seja propícia, batendo as palmas em seguida. Esta cerimónia é repetida por toda a gente da aldeia. Nessa mesma noite, todos os casais da aldeia devem ter relações sexuais que, desde a morte do seu antigo chefe, a todos eram vedadas. Se a nova aldeia já estiver construída, toda a gente passará a viver nela, a partir daquele dia, enquanto aquele chefe existir, se entretanto não for ordenada qualquer mudança.’’’’
Lunda Tchokwe
Os Tchokwe / Chokwe desfrutam de uma admirável tradição de esculpir máscaras, esculturas e outras figuras. A sua arte inventiva e dinâmica, é representativa das várias facetas inerentes a sua vida comunitária, dos seus contos míticos e dos seus preceitos filosóficos. As suas peças de arte gozam de um papel predominante em rituais culturais, representando a vida e a morte, a passagem para a fase adulta, a celebração de uma colheita nova ou ainda o início da estação de caça. O nome Tshokwe apresenta algumas variantes (Tchokwe, Chokwe, Batshioko, Cokwe) e, entre os portugueses, ficaram conhecidos por Quiocos . "Nesta pagina podemos usar qualquer variante do nome Tshokwe (acima referido)"
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